Energia dos Oceanos
Implantação em Portugal
Portugal regista atividade na área da energia das ondas desde 1977 através do envolvimento em projetos de I&D e de desenvolvimento e implantação de tecnologia tanto a nível nacional como em colaboração internacional.
Entre as entidades portuguesas sem fim lucrativo que já se envolveram em projetos de I&D contam-se o Instituto Superior Técnico (IST- CENTEC, IDMEC), o INESC TEC, a Universidade do Porto (INEGI, CIIMAR), o WAVEC, a Universidade do Algarve (CCMAR/CIMAR), a Universidade de Coimbra, a Universidade de Aveiro (CEIIA), o Laboratório Nacional de Energia e Geologia, e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Também portos marítimos, como o de Viana do Castelo, estão sensibilizados para a descarbonização e apoiam o desenvolvimento e adoção de tecnologias de energia renovável.
Além destas entidades, múltiplas empresas privadas colaboram em projetos e/ou são fornecedoras de equipamento (estruturas metálicas, componentes eletromecânicos, cabos elétricos e de ancoragem) e serviços (instalação, manutenção, inspeção remota). Das atividades académicas e de empresas privadas resultou já o registo de mais de 60 patentes portuguesas em energia dos oceanos, constituindo tais organizações, no seu conjunto, uma cadeia de valor capacitada para dar resposta às necessidades de implantação nacional do setor. Assim, o mar português tem acolhido diversos dispositivos experimentais de conversão de energia das ondas.
A construção da primeira central em Portugal foi terminada em 1999 em Porto Cachorro, ilha do Pico, Açores. Tratou-se de uma central experimental de conceção inteiramente portuguesa, primeira no mundo à escala real ligada à rede de distribuição de eletricidade. A conversão recorria à tecnologia coluna de água oscilante, produzindo eletricidade através de uma turbina Wells desenvolvida pelo IST e uma empresa portuguesa especificamente para o mar atlântico (esta turbina manteve o seu percurso de desenvolvimento tendo sido posteriormente incluída noutros projetos fora de Portugal). A central, colocada sobre a costa, com potência de aproximadamente 400 kW, esteve em funcionamento com operação autónoma sobretudo em 2010, tendo tido o seu fim por razões de segurança da estrutura em 2018.
Em 2004, foi colocado a 43 m de profundidade, 6 km ao largo de Aguçadoura, Póvoa de Varzim (onde foi construído), um dispositivo de oscilação vertical, em arfagem, construído em aço (9 m diâmetro) à escala 1:2, com um gerador elétrico linear com 2 MW de potência, denominado Archimedes Wave Swing (AWS).
Em 2008 foram instalados, 5 km ao largo de Aguçadoura, dispositivos de superfície denominados Pelamis, constituídos por três cilindros oscilantes em aço colocados perpendicularmente à frente de onda, cada um com comprimento 142 m, diâmetro 3,5 m e potência 750 kW, totalizando 2,25 MW. Considera-se que formaram o primeiro “parque” a produzir eletricidade para a rede de distribuição elétrica. Dois meses depois da inauguração a produção foi interrompida por razões técnicas e a crise económica de então justificou o fim do projeto.
Em 2012 entrou em funcionamento, perto da costa de Peniche, um dispositivo de tecnologia denominada WaveRoller constituído por três painéis submersos de 18 x 10 m2, movidos pelas oscilações horizontais dentro das ondas, e um gerador hidráulico. Esta central tinha 100 kW de potência e ligação direta à rede elétrica. Esteve em operação dois anos e depois retirado do mar. Em 2020 é instalado 850 m ao largo da Praia de Almagreira, Peniche, a 16,7 m de profundidade, um novo dispositivo destes com um só painel e 350 kW de potência.
Apesar do recurso ser considerado fraco em Portugal, a Ria Formosa, perto de Olhão, albergou entre 2017 e 2019 um dispositivo de correntes de maré, neste caso aplicado a correntes fluviais em estuário, à escala 1:10, mediante um projeto internacional da Universidade do Algarve. A tecnologia do EVOPOD é constituída por numa turbina de eixo horizontal, flutuante, com 1,6 kW de potência nominal à velocidade 1,6 m/s. O projeto permitiu simular o funcionamento da tecnologia em regiões costeiras de baixa profundidade.
Em 2023 foi colocado no mar o dispositivo designado CorPower C4, a cerca de 5 km da praia da Aguçadoura, perto da Póvoa de Varzim, ancorado ao fundo a 45 m de profundidade. Trata-se de um conversor por absorção pontual da energia das ondas com 300 kW de capacidade de produção de eletricidade. O C4 é um dispositivo pré-comercial em escala real com 18 m de altura e 9 m de diâmetro, parcialmente construído e montado nas instalações da empresa no Porto Comercial de Viana do Castelo. O C4 liga-se à rede elétrica nacional por cabo submarino e subestação em terra, subestação esta já utilizada em projetos anteriores (AWS, Pelamis e WindFloat Demo), sendo retirado do mar para testes programados. Além do C4 prevê-se a construção e instalação de três dispositivos designados C5 para formar um parque de energia das ondas com 1,2 MW de capacidade.
(Fontes: REN, AW-Energy, CorPower, CCMAR/CIMAR, IST, TeamWork, WES.)