Geologia do Petróleo
Bacias Sedimentares
Os novos dados de sísmica e de gravimetria adquiridos pela TGS-NOPEC permitiram uma melhor demarcação das bacias sedimentares do onshore, do offshore pouco profundo e permitiu ainda reconhecer novas bacias desenvolvidas em águas mais profundas.
É possível agrupar estas bacias Meso-Cenozóicas em dois grupos:
Bacias interiores - localizadas na região interior da margem continental e estendendo-se frequentemente para onshore:
Bacia do Porto
Bacia Lusitânica
Bacia do Algarve
Bacias exteriores - localizadas em águas profundas a Oeste e a Sul das primeiras:
Bacia Interior da Galiza
Bacia de Peniche
Bacia do Alentejo
Bacia de Sagres
Bacia do Golfo de Cádis
Fonte GPEP: Bacias sedimentares meso-cenozóicas
Todas estas bacias foram criadas pelos processos tectónicos que levaram à abertura do Oceano Atlântico Norte.
Destas bacias, a bacia do Porto, localizada mais a Norte, tem uma extensão de 100 km e prolonga-se para lá da fronteira marítima luso-espanhola. A bacia desenvolve-se exclusivamente no offshore e cobre uma área de cerca de 2150 km² - até à batimétrica dos 200 m - ou 2800 km2 - até à batimétrica dos 1000 m - em águas portuguesas. Os sedimentos Mesozóicos depositados nesta bacia podem atingir os 8 km de espessura e encontram-se cobertos por uma capa pouco espessa de sedimentos Cenozóicos.
A bacia Lusitânica, localizada a Sul da bacia do Porto, é a maior das bacias interiores portuguesas e estende-se do onshore para o offshore com uma área de cerca de 22000 ². O registo sedimentar que a preenche, com cerca de 6 km de espessura, tem uma idade semelhante à da bacia do Porto mas apresenta uma maior espessura dos sedimentos do Jurássico, em comparação com os do Cretácico. Tal como acontece com a bacia do Porto, também aqui a espessura dos sedimentos Cenozóicos é pequena.
A bacia do Algarve, com cerca de 8500 km2, fica localizada no Sul do país e estende-se pelo onshore e pelo offshore, mais ou menos paralelamente à linha de costa. Esta bacia continua para Este com o nome de bacia de Cádis, já em águas espanholas. A profundidade sedimentar até ao soco Carbonífero pode exceder os 7 km e o preenchimento é, também aqui, constituído por sedimentos do Triásico Superior até ao Cenozóico. A espessura relativa dos sedimentos do Cenozóico e em particular do Neogénico, é superior às espessuras observadas nas duas bacias ocidentais interiores acima descritas.
A evolução das bacias exteriores não é tão bem conhecida uma vez que a maior parte dos dados cobrindo esta área só recentemente se encontra disponível. A área total das bacias exteriores ainda é desconhecida. Os mais recentes dados adquiridos fornecem uma ideia das formas destas bacias, mas os seus limites são ainda incertos. O mesmo pode ser dito quanto à espessura sedimentar e idade dos sedimentos. No entanto, podemos afirmar que a espessura do registo sedimentar Cenozóico parece significativamente mais espesso do que é observado nas bacias interiores da margem ocidental, o que permite pensar num futuro promissor para a pesquisa destas bacias.
Outros estudos são igualmente encorajadores, relativamente ao potencial petrolífero nacional, como sejam os estudos das margens conjugadas. Antes dos eventos geológicos que desencadearam a abertura do Atlântico, as regiões onde se formaram estas bacias, designadamente as da costa ocidental, encontravam-se geograficamente muito próximas das regiões dos atuais Grand Banks, na Terra Nova, Canadá. O facto de as bacias sedimentares portuguesas terem uma génese inicial comum e apresentarem semelhanças geológicas com as bacias do outro lado do Atlântico, nomeadamente do Canadá, onde se revelou a geração de petróleo e gás e onde ocorre a sua produção, como por exemplo, na Bacia de Jeanne D'Arc, é muito promissor. No que diz respeito à margem algarvia, a bacia do Algarve, em águas portuguesas, constitui a continuidade geológica para Oeste da Bacia de Cádis, em águas espanholas. Como é conhecido, na Bacia de Cádis produz-se gás natural há mais de duas décadas, elevando a probabilidade de também serem identificados reservatórios de gás na Bacia do Algarve, cujas modelações geológicas também indicam a possibilidade da ocorrência de geração de petróleo, bem como da sua migração e da sua acumulação em estruturas geológicas.
Todos os ingredientes necessários a um favorável sistema petrolífero em que possam existir acumulações comerciais de petróleo ocorrem em Portugal: existem boas rochas-mãe que atingiram a fase de geração, bons reservatórios adequadamente cobertos por rochas selantes e abundância de estruturas que fornecem boas armadilhas. Somente não foi, ainda, possível encontrar todos os ingredientes na combinação certa, apesar dos numerosos estudos e pesquisa desenvolvidos no país.
Com efeito, os dados adquiridos ao longo de 8 décadas de prospeção e pesquisa permitiram identificar vários níveis geológicos potencialmente geradores de petróleo e gás no Jurássico e no Cretácico, tendo-se reconhecido dois principais sistemas petrolíferos nas bacias portuguesas interiores: o Sistema Petrolífero Paleo-Mesozóico e o Sistema Petrolífero Meso-Cenozóico.
Através destes dados, foram revelados vestígios de hidrocarbonetos em 59 sondagens no onshore e em 7 sondagens no offshore e nos testes de sondagem realizados foi possível recuperar-se hidrocarbonetos em 24 sondagens do onshore e em 2 sondagens do offshore. No entanto, é importante referir-se que 89% das sondagens realizadas no onshore têm mais de 50 anos e que das 27 sondagens realizadas no offshore 85% foram realizadas há mais de 30 anos, podendo compreender-se as dificuldades de interpretação de uma região geológica de grande complexidade como é a plataforma continental portuguesa, sem que novas operações de aquisição de dados geológicos e geofísicos sejam realizadas, especialmente ao nível das bacias exteriores, onde nunca foram executadas perfurações de sondagens de pesquisa o que dificulta grandemente concluir da qualidade, idade, espessura e extensão de eventuais rochas geradoras e rochas reservatório.
Contudo, não há razão para duvidar da existência de sistemas petrolíferos também nestas bacias, tendo em atenção a sua evolução paleogeográfica, bem como, as espessas sequências sedimentares do Mesozóico e do Cenozóico, especialmente na Bacia de Peniche e na Bacia do Alentejo, inferidas a partir de campanhas de prospeção sísmica, realizadas entre 2008 e 2015, que igualmente forneceram boas indicações da presença de hidrocarbonetos e permitiram identificar estruturas geológicas de dimensão apreciável, quer de natureza tectónica, quer estratigráfica, promissoras e suficientemente atrativas para a continuidade dos trabalhos de pesquisa petrolífera.
Assim e apesar de alguns trabalhos de prospeção e pesquisa terem sido realizados ao longo de várias décadas nas bacias sedimentares interiores, pode considerar-se que estas ainda se encontram subavaliadas. Mesmo a Bacia Lusitânica, a mais pesquisada das bacias portuguesas, com uma densidade de sondagens de pesquisa da ordem de 2,4 por 1 000 km², é disso um bom exemplo. Quanto às bacias exteriores, nas quais apenas em anos mais recentes foram adquiridos dados, essencialmente indiretos, e onde nunca foi feita qualquer sondagem de pesquisa, continuam a constituir uma oportunidade para investigação, sendo fundamental a prossecução dos trabalhos de pesquisa para aumento do conhecimento do seu potencial petrolífero e dos seus recursos, bem como da infraestrutura geológica do país.
Para mais informação consultar “Livro Verde sobre a prospeção, pesquisa, desenvolvimento e produção de hidrocarbonetos em território nacional”, elaborado pela ex-Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis, E.P.E. (ENMC), atual Entidade Nacional para o Setor Energético, E.P.E. (ENSE) (ver Documentação/Divulgação - Publicações).